18 agosto 2006

Realmente inacreditável

Primeiramente parabenizo os colorados por finalmente tornarem o nome de seu time real. Quem diria q isso um dia aconteceria, realemnte inacreditável. Mas como uma gostosa disse "em terra de Libertadores quem tem uma é macaco e quem tem duas é rei."
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Agora falando do que é importante o Grêmio lançou o dvd do filme Inacreditável sobre a Batalha no Aflitos. apenas R$ 29,90

www.filmeinacreditavel.com.br

Quem não sabia como ajudar o Grêmio tá ae uma boa forma de ajudar o tricolor e ainda leva pra casa o dvd com esse feito inacreditável. alías olha o Depoimento de um torcedor que presenciou esse feito inverossímil lah em Recife.
Depoimento de quem esteve em Recife e outro do carinha do Correio do Povo.

um videozinho pra relembrar o fato caso tenham esquecido o que certamente não ocorreu

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Depoimento de quem esteve em Recife
autor gremista desconhecido

Quando um jogo de futebol entra para a história, não são poucos os relatos que são passados de geração para geração. Quem participou do fato marcante, guarda as lembranças para sempre na memória.

No depoimento abaixo, o relato do maior e mais pé quente torcedor do Grêmio. Acompanhe de um ângulo diferente como foi a conquista do Grêmio na vitória histórica de 1 a 0 sobre o Náutico, em Recife. Afinal, Ele esteve lá:

"Já havia decidido. Não adiantava tentar fazer com que eu voltasse atrás. Eu sei que tenho muito trabalho mas estava em dívida com o meu time do coração. Há mais de dois anos que eu não aparecia e esse era o momento certo. Além do mais, não poderia deixar de atender a tantos pedidos.
Achei minha camisa no fundo do armário. Não é a nova, mas trás boas recordações. Estava com ela naquele jogo contra o Corinthians, no Morumbi, na final da Copa do Brasil de 2001. Lembra? Aliás, aquele foi meu último jogo.

Dia de sol e calor em Recife. Com aquelas praias lindas, não resisti a um bom banho de mar pela manhã. Realmente eu tinha feito um ótimo trabalho.
Cheguei cedo aos Aflitos. Estádio pequeno, acanhado. Muito pior que o estádio da Ilha do Retiro, do Sport, que conheci no primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 1989. Nos colocaram em um cantinho, atrás do gol, à direita do pavilhão.
Estádio lotado, pressão de todas as partes. O jogo começou tenso. O time nervoso em campo, a torcida nervosa na arquibancada. Lance de perigo na área gremista e explosão da torcida adversária. Atônito, perguntei para um cara sem camisa ao meu lado que estava com um radinho na orelha:
- O que houve?
Ele resmungou:
- Pênalti.
O árbitro havia marcado penalidade máxima contra o Grêmio.
Prontamente falei:
- Não esquenta, vai errar.
Estiquei o pescoço para tentar ver a cobrança. O chute foi forte mas a bola estourou no poste. Delírio da torcida gremista que comemorou como se fosse um gol. O cara com o radinho na orelha pulou no meu cangote e gritava: “Tu é mago! Tu é mago!”.
Depois do pênalti perdido, o Náutico ainda teve duas grandes chances. Galatto salvou.
Estes talvez tenham sido os melhores lances da primeira etapa.
Me surpreendi com a qualidade desse jovem goleiro gremista.

Antes do início do segundo tempo, perguntei para o cara do radinho:
- Por que o Ricardinho não voltou?
- Sei lá, foi a resposta.
Lamentei por ter esquecido meu rádio.
- E quem é aquele alemãozinho? Perguntei já me dirigindo para outros torcedores. O gorducho de boné respondeu sem tirar os olhos do gramado:
- É o Lucas. Sobrinho do Leivinha.
Realmente eu precisava me atualizar mais.

O Náutico voltou determinado a vencer o jogo. O Grêmio recuou tentando manter o empate que dava a classificação.
A cada gol perdido pela Portuguesa que jogava contra o Santa Cruz na outra partida, o cara do radinho soltava um palavrão. Achei interessante conhecer alguns xingamentos típicos do nordeste.
Aos 15 minutos, o técnico gremista colocou o Anderson em campo. Finalmente poderia ver ao vivo aquele menino de quem falavam maravilhas.
Na frente de Galatto, o atacante Kuki perdeu um gol incrível. Essa eu tirei com os olhos!
Os donos da casa tentam mais um ataque pela direita. A bola bate na mão de Escalona que é expulso.
A apreensão está estampada na cara de cada gremista.
Dois minutos depois, o árbitro não marca uma penalidade sobre um atacante pernambucano.
O gordo de boné tira os olhos do gramado pela primeira vez e sussurra baixinho em minha direção tapando a boca com as mãos talvez para que o árbitro não escutasse:
- Foi.
Eu respondi:
- Foi, mas ele não deu.
Não deu aquele. Mas não demorou muito para prevalecer a lei da compensação. Num lance rápido, lá do outro lado da área, uma suposta mão na bola do Nunes. Ele deu pênalti.
Bateu o desespero. Dirigentes invadindo o campo, jogadores pressionando o árbitro. Deu até vontade de intervir mas prometi que ia me conter.
Nunes, Patrício e Domingos expulsos na confusão. Só sete jogadores em campo contra 11 do Náutico. O gordo de boné sentou pela primeira vez e ali ficou. Olhando pro chão tentando acertar cascas de amendoim dentro de um copo de refrigerante cheio de xixi. O cara do radinho tentava enfiar o aparelho dentro do ouvido para ver se escutava o nome de quem havia sido expulso e quantos eram.
Depois de quase meia hora de bola parada, o lateral do Náutico ajeitou na marca da cal para fazer a cobrança.
No segundo degrau da arquibancada, um jovem torcedor identificado com a Alma Castelhana se virou, olhou em minha direção e gritou:
- Faz alguma coisa!
Mas “fazer o que?” pensei.
Quando o jogador partiu pra bola, escutei alguém dizer as minhas costas:
- Não esquenta, vai errar.
Galatto se atirou para o canto esquerdo e defendeu com as pernas.
Incrível a loucura que tomou conta dos torcedores gremistas. Muitos corriam pra cima e pra baixo sem saber o que fazer. O cara do radinho tentava recuperar as pilhas que haviam caído e dizia:
- Espera cobrar o escanteio. Espera cobrar o escanteio.
Olhei para trás em busca do dono daquela voz que havia repetido as minhas proféticas palavras do primeiro pênalti.
Tentando se esconder atrás do gordo de boné, lá estava ele.
- Só podia ser você! Exclamei sorrindo.
Eurico Lara desceu dois degraus e veio em minha direção.
- Oi Mestre, o pessoal lá de cima disse que eu ia te encontrar aqui - Falou me abraçando e completou - O que achou da defesa? Perguntou com um sorriso maroto de quem acaba de fazer arte.
- Tu não tem jeito mesmo, suspirei.
A apreensão era tanta que a torcida gremista passou a acompanhar o desfecho final em completo silêncio.
- Vai ser difícil agüentar a pressão com apenas seis jogadores na linha, disse Lara me olhando de canto de olho para ver a minha reação.
Devolvi a olhada e caí na gargalhada quando ele deu aquela balançada de sobrancelha como se estivesse perguntando “Tá. E aí? Vai ficar nisso?”.
- Não posso, lamentei.
Ele me olhou e apelou:
- O Senhor está me devendo essa desde aquele jogo contra o Ajax em 95 que não quis que a gente fosse.
O cara do radinho me olhou. Olhei pra ele, olhei pro Lara. Suspirei:
- Tá bom, tá bom. Deixa esse finalzinho comigo.
Anderson desceu com a bola pela esquerda e foi derrubado na frente do banco de reservas tricolor. Cartão vermelho para o zagueirão pernambucano.
Abatidos pela penalidade perdida e com pouco tempo para tentar um gol, os jogadores do Náutico não se deram conta quando a falta foi batida com rapidez. Em velocidade, Anderson passou por dois e largou a bola no fundo das redes. Grêmio 1 a 0!
Nova loucura nas arquibancadas. O espacinho destinado ao torcedor gremista ficou pequeno para tamanha festa. Nessa hora, o cara do radinho já havia rolado até o alambrado e, com as costas esfoladas, estava abraçado ao policial militar que tentava se desvencilhar.
Olhei pro Lara e disse:
- Gostou? Grande vitória, né?
Com o espanto na cara, balançou a cabeça positivamente.
- Graças a Deus. Graças a Deus.
Com a missão cumprida já não restava mais nada a fazer ali e ainda tinha muito trabalho acumulado para resolver.
- Vamos comigo? Perguntei.
- Ainda não. Vou dar um pulo lá no Sul para ver como está a festa.
- Então faz um favor. Antes de subir, passa ali no Olímpico e me compra uma camisa nova da Puma. Depois a gente acerta. "


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MILAGRES E ESTILOS
Juremir Machado da Silva

O Internacional é um time de pobres. Nós. Nunca terá convicções de gremista.
São duas visões de mundo. O Grêmio é a cara do Rio Grande: arrogante,
fanfarrão, pachola, varzeano e, por isso mesmo, capaz de se impor e de
vencer em qualquer situação. O Inter, como qualquer pobre de caricatura,
está sempre meio envergonhado, vai logo dizendo, 'desculpe qualquer coisa',
intimida-se com facilidade. Na casa dos ricos, tem medo de sujar o sofá.
Como todo pobre complexado, quer jogar bonito, ganhar com elegância, mostrar
boas maneiras. O Grêmio, como rico prepotente e seguro de si, não está nem
aí para os bons modos: quer é resultado, a qualquer preço.

Ao ser roubado, contra o Corinthians, Tinga já levantou se explicando. O
Inter discutiu durante três minutos e acatou a decisão do árbitro. Já em
Recife, os jogadores do Grêmio peitaram e chutaram o juiz, criaram um clima
terrível, condicionaram tudo e levaram varzeanamente o resultado. O pênalti
deveria ter sido batido novamente, pois o goleiro gremista se adiantou. Mas
o juiz já estava apavorado, louco para expulsar alguém do Náutico e se
ajoelhar diante dos gremistas. Acho que Anderson cobrou a falta para ele
mesmo na hora do seu gol impossível. Que importa? O Grêmio já tinha vencido
a batalha da 'catimba'.

Existe um inconsciente esportivo. Quando o jogador chega ao Olímpico,
assimila um passado de rico dono do mundo, de quem inventa o próprio
marketing e o transforma em verdade. No Beira-Rio, o atleta vira um
sonhador. O Inter, quando ganha, faz obra-prima, como em 1975 e 1976, ou
algo inédito, como o campeonato invicto de 1979. Mas isso é raro e fora de
moda, do 'tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça', como diria o
filósofo Felipão. O Grêmio é um investidor neoliberal que não se preocupa
com estética e, se compra quadro, é pelo valor de mercado.

Não falo de ser rico, mas de ter uma atitude de dominação e de mando.
Paradoxalmente, castilhismo, gremismo e petismo representam esse espírito de
arrogância tipicamente gaúcho. Maragatos, colorados e excluídos encarnam
esse idealismo romântico e estetizante dos pobres ou ricos com sensibilidade
poética. Como houve milagre em Recife, o Inter não poderá ser beneficiado
pelos céus no próximo domingo. Ou Deus será acusado de beneficiar os gaúchos
e poderá ser chamado a depor numa CPI sob suspeita de 'mensalão'. Além
disso, só o Grêmio é imortal.

CORREIO DO POVO, 30/11/2005

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Futebol no RS

Comentar o futebol do Rio Grande do Sul é um tanto curioso, ainda mais morando no Rio. Recebi o convite de PLACAR para fazê-lo na série de reportagens onde comentaristas esportivos de um estado, comentariam o futebol de outro, e no final diriam qual time simpatizavam mais. Achei a idéia brilhante, já que no Rio ninguém vai me cobrar por ser simpatizante de Grêmio ou Internacional, eu espero. As rivalidades já passaram fronteiras, como aquele caso ocorrido alguns anos atrás onde dois homens quase se agrediam a socos em hotel de Copacabana. Depois se soube que eram dois gaúchos, um Gremista, outro, Colorado. A gozação quase acabou em briga.
O futebol é Rio Grande do Sul é dividido em dois. Grêmio e Internacional. Talvez a rivalidade mais marcante do futebol brasileiro. Não é uma rivalidade apenas esportiva, de cores, de paixões. É uma rivalidade social, de estilos de jogo, e de vida. Uma rivalidade quase étnica. Alguém pode perguntar sobre o Juventude, pois o Juventude, que com competência e tropeços vem se mantendo na elite do futebol brasileiro, foi arrastado para a dicotomia do futebol gaúcho, através da acusação de ser um “apêndice” do Grêmio. Coisas de uma guerra que às vezes busca aliados fora.
O Internacional é o clube do povo. De trabalhadores, de poetas, de apaixonados. De Brizola e Jango. É popular, pioneiro na democratização do futebol gaúcho. De gozadores e galhofeiros. De gênios habilidosos, de Tesourinha e Falcão, para citar duas eras douradas, de jogadores que não erram passes, de futebol vistoso, cadenciado.
O Grêmio é o clube da “elite”, dos modernos, dos “magros” do Bom-Fim, é o clube dos pioneiros do rock gaúcho, dos rebeldes da década de 80, da geração “Tóquio”, como escreveu Eduardo Bueno. Mas também é o clube de Médici e Geisel. É o clube da torcida platina, que canta músicas do argentino Fito Paez na “cancha” e faz avalanche na hora do gol. É o clube da loucura de Renato Portaluppi, da liderança de Luiz Felipe Scolari. É o clube do destemor diante do adversário, da fúria diante da adversidade.
É curioso esse fenômeno de Grêmio e Internacional. O Grêmio é um dos clubes mais odiados por todas as torcidas do país. O Internacional é tratado com um misto de admiração e saudosismo. Talvez pelo motivo que a maioria dos torcedores ainda leva as chagas da dureza do Grêmio das décadas de 80 e 90.
O Telmo Zanini, que é colorado, diz que o Grêmio leva um certo gauchismo aristocrático na sua imagem. Aquela coisa de gaúcho criador de cavalo de raça que tem apartamento na elegante praia de Punta del Este, no Uruguai. Segundo o Telmo em Punta Del Este tem mais gremista do que no balneário de Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Não sei até que ponto isso é verdade, até porque já passou a fase do “clube dos brancos” e “clube dos negros”, seja no Grêmio, no Fluminense, no São Paulo ou no Cruzeiro, clubes geralmente apontados como dos ricos. Existem negros, brancos, judeus, pobres e ricos em todos os clubes do Brasil. O clube mais rico do Brasil hoje, é o Corinthians, aquele do “corinthiano, favelado e sofredor”. O Internacional hoje tem uma situação financeira invejável, que espero não redunde naquela tentativa doentia dos dirigentes de tentar conquistar o mundo a qualquer preço, que depois termina em dívidas impagáveis.
O Grêmio leva três medalhões no peito. As duas Libertadores da América, conquistadas em 83 e 95, o Mundial Interclubes de 83, ganho contra o então campeão europeu, o Hamburgo. O Grêmio explodiu para o mundo na década de 80, criou a geração “Tóquio”, e viu o rival naufragar. A verdade é que as únicas razões de comemoração da torcida do Internacional foram os dois rebaixamentos do Grêmio em 91 e 2004, já que além dos campeonatos estaduais, apenas a distante Copa do Brasil de 92 foi motivo de alguma comemoração, logo depois transformada em frustração na péssima campanha da Libertadores de 93.
Mas hoje, parece que os colorados enxergam alguma luz no fim do túnel. O time segue muito vivo no brasileiro, mesmo após o Escândalo do Apito, e está com força total na Copa Sul-Americana. O clube vive uma confortável situação financeira, com um projeto audacioso de modernização do estádio Beira-Rio em curso, testemunhada por mim no jogo da Seleção em Porto Alegre. Os gremistas falam que o Internacional vem se reestruturando desde 1979 e que tudo isso, de novo, não vai redundar em nada. O colorados retrucam, falam na situação difícil do Grêmio, na realidade da série B. O gremistas dizem que suas crises, duram dois ou três anos, e do Internacional continua a mais de um quarto de século.
Infelizmente, digo aos colorados, as conquistas do Grêmio são muito mais marcantes do que os seus fiascos, tanto que tive que pesquisar para me lembrar o ano que o Grêmio caiu a primeira vez, mas não pesquisei para lembrar quem foi o campeão da Libertadores de 83. Não sou Gremista, longe disso, inclusive acho que o time de Luis Felipe Scolari era um time apenas bom. Não era superior ao Palmeiras de 94 e 95, o Cruzeiro de 96 ou o Vasco de 97. Acho o time Campeão do Mundo sim, um timaço. Tão bom quando o Flamengo da época. Assim como também acho que foram injustiçados os times do Grêmio do final da década de 80 e o time de 2001 e 2002. Eu era fã daqueles times, primeiro de Assis, Valdo, Cuca e Paulo Egídio, depois de Marcelinho Paraíba, Zinho, Rodrigo Fabri e Rodrigo Mendes.
Simpatizo com o Grêmio pela sua rebeldia. Pelo seu destemor. Por mesmo estando na série B, mover um povo, uma paixão. Li o livro do Eduardo Bueno sobre o Grêmio, e me apaixonei mais ainda. O Grêmio se debate, não se entrega. Lembra a Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial. Gosto da torcida do Grêmio, que trouxe essa paixão platina para dentro da “cancha”, que não canta os arrastões dos bailes funk, nem leva aquelas faixas encomendadas das torcidas organizadas. Gosto da torcida do Grêmio que cada um leva sua faixa com seu amor, e que canta que “não importa o que digam, não importa onde vás, eu te sigo a toda parte, e cada dia te quero mais”. E para os colorados me odiarem eternamente, vai uma análise, de um Flamenguista, jornalista, que acompanha futebol fazem 30 anos. Se o Internacional perder essa chance de criar uma geração “Tóquio”, vai estar ajudando a reerguer o Grêmio, e corre o risco de ver o Grêmio sair do buraco de novo em 3 anos, e ele Internacional, de novo, no fim da fila.

A princípio, este texto era creditado a Sérgio Du Bocage, que é jornalista esportivo da TVE Brasil da DB Press e torcedor do Flamengo, porém após alguns emails ele disse que não é o autor do mesmo. Até hoje não sei quem escreveu esta pérola...
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A imortalidade tricolor me espanta.

Emanuel Neves


O termo foi criado por Lupcínio Rodrigues e está no hino do cinquentenário, oficializado como canto maior do clube. Não sei quem o difundiu. Acredito que tenha sido nos anos 90, quando o mediano time de Felipão quase conquistou o mundo. Lembro que ele ganhou ainda mais força em 2003, na escapada heróica do rebaixamento.

Porém, a imortalidade tricolor nunca mostrou tanto a sua força quanto nesse 26 de novembro de 2005. Vestido de azul e branco, uniforme da Celeste Olímpica, meu time de futsal, suado, parei em frente à TV da quadra onde acabara de jogar minha bola miúda, rodeado de gremistas. Estavam todos perplexos. O Grêmio tinha quatro expulsos e um pênalti contra. Já havia se safado de um no primeiro tempo. Decorridos, sei lá, 50, 60 minutos da etapa final. Tragédia iminente. Lá mesmo, em Recife, o precipitado Santa Cruz levantava a taça, comemorando o título da Divisão de Acesso e a vaga na elite.

O dono da quadra, um colorado fervoroso, se divertia, lançando piadas e vibrando com a possibilidade concreta de ver o rival por mais um ano no subsolo do futebol brasileiro. Ansioso, ouvia a Guaíba, rádio oficial dos vermelhos. O ala-esquerdo correu para a bola e bateu. Atrás do balcão, ele anunciou.

- Goooo....não...defendeu o Galatto!

Um segundo de silêncio sepulcral. Até que o atrasado sinal televisivo mostrou o camisa seis chutando um dos pênaltis mais pífios da história, e Galatto defendendo com a perna. O grito daqueles gremistas ensurdeceu a zona norte. O pequeno grupo pulava, se atirava ao chão, chutava cadeiras de plástico vermelhas, batia no peito, orgulhoso, com os olhos cheios de lágrimas.

Encostado no bar, eu repetia uma palavra, incessantemente.

- Inacreditável.

Pouco depois, o preterido Ânderson dribla dois e marca um gol antológico. O Grêmio, que, minutos antes, com sete jogadores em campo, atordoado, com a bola na cal anunciando a derrocada, abaixo de milhares de alvirrubros de mãos dadas, ajoelhados no entupido Aflitos, vendo a taça do único campeonato que o interessava e faltava já sendo alçada aos céus por tricolores que não vestiam suas cores, antecipando o fiasco de ser o único grande clube a passar dois anos seguidos na Série B, colocando em risco o futuro do clube centenário, acabara de reverter o impossível.

- Inacreditável.

Ali, cometendo o sacrilégio de esquentar minha cerveja, eu pensei na imortalidade tricolor. Essa força que sabe Deus de onde vem e marca a trajetória do time pelo qual eu sempre torci contra.

Essa força fez os alas do Náutico se borrarem e desperdiçarem dois pênaltis. Ela levantou a providencial perna do arqueiro, ex-quinto reserva, jogando para longe o perigo. Levou o projeto de craque, queimado pelo técnico ao entrar nos segundos finais e não encostar na bola contra o Santa Cruz, mostrar do que era capaz, segundos antes de se despedir.


Não existem Odone, Pelaipe, Mano, Galatto, Ânderson. Não existe o planejamento. Não existe a competência para driblar os problemas no ano mais complicado do clube. Não existem cantos castelhanos. Não existe a Goethe pintada de azul, preto e branco.

Para mim, só há a imortalidade tricolor.

E ela me espanta.

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